Terapia com Amor

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Tereza Cristina é adotada, e daí?



Claudia Aguiar

Mais uma vez a Rede Globo distorce um tema tão polêmico onde a sociedade ainda não tem maturidade para lidar com naturalidade ,como a adoção. Esta semana uma amiga postou no facebook a sua indignação pela falta de respeito de um alguém que abertamente condenou ela e o marido por terem adotado uma criança negra, em que ela naquele dia, estava feliz por seu filho está completando hum ano de idade. E logo em seguida, em rede nacional, a personagem de Cristiane Torloni e todo os núcleos da “fina” novela, se mostram estupefatos porque Teresa Cristina é adotada e filha de uma “louca’! O menino, filho da personagem, entrou em uma crise existencial porque os colegas da escola vão abusar dele, já que ”não” é mais neto dos avós bem sucedidos. O assessor cultural da história egípcia, propôs até chamarem os psicólogos de plantão para resolver o caso. E a filha que é uma pretendente a ser alguém que vai cuidar das neuroses alheias, resolveu que ela não ia ficar presa a esta “dor”(ser adotada é dor, já que a mãe sabia de sua condicão de adotada??????) que era bola pra frente!ui.....
Agora ,e os adotados que assistiram a estas cenas de horror, como será que ficaram?Esses protagonistas do mundo real que vivem eticamente com sua história de adoção, acolhimento, e sabem que mesmo não sendo frutos de uma gestação embrionária, são filhos de uma gestação psíquica e amorosa desses pais? Ou pior,o que é muito comum,quando muitos ainda estão vivendo o processo da rejeição uterina, e não se conformam em serem adotados e vivem conflitos de identidade, se sentem rejeitados, excluídos, e perseguidos da idéia de “normalidade” em que filhos são aqueles que são gerados biologicamente? vem uma telenovela e reforça..... Quantas famílias, já acompanhei de crianças adotadas não se sentirem pertencidas, mesmo os pais sendo pessoas amorosas , verdadeiras, acolhedoras, com acompanhamento psicológico e a pessoa adotada ter esta sensação de estranheza e distanciamento? O assunto é sério e deveria ser tratado com respeito e muita, muita sensibilidade. Retratar a adoção como se fosse uma situação de menos valia, de discriminação, inclusive de justificativas pela loucura de “Teresa Cristina”, só reforca a dificuldade que esta sociedade tem para ver a adoção como um ato de amor e respeito. Imagine uma sociedade consumidora de novelas globais, que deve ter mais de 40 milhoes de expectadores sendo influenciados a ajustarem os seus pensamentos sobre o assunto na ótica que a novela propõe : -Ah, agora a gente entende porque ela era tao louca ! adotada!!! Não era filha dos pais que ela tanto queria ser!!........E desta forma , o tema adoção fica reforçado como uma acão perigosa, repulsiva, preconceituosa.
Adoção é um tema muito mais complexo do que se imagina. No Brasil, onde a maioria das crianças a serem adotadas são negras, os casais que se propõem adotar ,na maioria brancos, vão buscar crianças brancas para serem seus filhos, com uma justificativa, que assim eles podem sentir as criancas como suas.......Mas como? adoção não seria acolher o outro para cuidar, nutrir, acompanhar, amar , o que então esta identificação de cor é condição para se entregar? Parece que está imbuído um preconceito de acolher o ser humano como ele é , e querer aquele a quem eu reconheço como sendo igual a mim. E nos deparamos com crianças negras que tem suas vidas infantis em orfanatos porque aqueles que se dizem na busca de dar amor , não podem amá-las. Ainda bem que temos famílias, como a da querida Ro, que se enebriam de felicidade por ter a capacidade de amar um filho negro e adotado, como ela mesmo colocou em seu facebook.
Bert Helinger, terapeuta alemão, idealizador das Constelacões Familiares, indica que o ideal é que as pessoas possam continuar vivendo no seu núcleo familiar. Sejam com avós, tios, primos, mas que permanecam aonde seus antepassados tenham vínculos. Para ele , esta convivência, dá uma sensação de pertencimento que assegura no ser um bem estar de viver aonde ela é parte. Também acredito que este seja o ideal, pois concordo que as leis que regem os sistemas familiares produzem no individuo uma forca de agregação e pertencimento. Mas isto não determina que se o indivíduo não tem escolha desta família núcleo, ele não possa ter a chance de viver uma história de amor com outra família que o queira.
Lamentável ainda no ano de 2012, termos uma mídia tão preconceituosa, distorcida e que influencia milhares de pessoas na nossa sociedade. Esta novela já poderia até ter acabado, pois começou retratando uma mulher brasileira, trabalhadora, com ética , mas não suportando ela ser uma das milhões de pessoas que vivem esta história neste Brasil,o que parece uma realidade sem glamour e enfadonha, precisavam fazê-la rica para ser admirada e logo em seguida mudam a programação ( o nome já define o que fazem nas mentes das pessoas), lhe tirarando o foco, mesmo com a riqueza instaurada, para dar lugar ao maquiavelismo da outra, que agora, tem mais uma característica imperdoável na ótica perniciosa deles : É ADOTADA! E eu pergunto E DAÏ?

2 comentários:

  1. Muito bom seu comentário, Claudia, e concordo plenamente com você. Certamente Tereza Cristina deve ter problemas de identidade (e olha que nem assisto a novela, mas o assunto me chamou atenção), mas que não se justificam pelo fato de ter sido adotada. No Brasil já existe um enorme défcit de adoções, imagine agora com tal veiculação. Ao invés das pessoas serem suscitadas a adotar, como por várias vezes a Globo se utiliza das suas telenovelas para prestar algum tipo de serviço, eles manifestam esse argumento. A personagem poderia ter problemas mesmo se a mãe fosse biológica por conta do seu histórico de loucura, mas não pelo fato de ter sido adotada, e sim por que a mãe talvez não lhe tivesse conferido o amor que ela desejasse. E com todo o dinheiro, por que ela não procurou uma terapia, hoje tão acessivel e difundida?
    Ana Paula Nobre

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    1. GRATA ANA PELO SEU RETORNO, vC ESTÁ CERTISSIMA,TUDO PODE SER INFORMADO DE VÁRIAS FORMAS E A GLOBO NA MAIOR PARTE DAS VEZES VACILA NOS SEUS CONTEUDOS E "DES" INFORMA O TELESPECTADOR.
      BOM SABER QUE NÃO DAMOS AUDIENCIA PARA ELA, MAS SEM PERDER A LUCIDEZ DOS ACONTECIMENTOS, ABRAÇO

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