Terapia com Amor

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Castelo de areia- Liberdade é CONFIAR!


Castelo de Areia


Sol a pino. Maresia. Ondas ritmadas. Na praia está um menino.

Ajoelhado, ele cava a areia com uma pá de plástico e a joga dentro de um balde vermelho. Em seguida, vira o balde sobre a superfície e o levanta.

Encantado, o pequeno arquiteto vê surgir diante de si um castelo de areia.

Ele continuará a trabalhar a tarde inteira. Cavando os fossos. Modelando as paredes.

As rolhas de garrafa serão as sentinelas. Os palitos de sorvete serão as pontes. E um castelo de areia será construído.

Cidade grande. Ruas movimentadas. Ronco dos motores dos automóveis.

Um homem está no escritório. Em sua escrivaninha, ele organiza pilhas de papel e distribui tarefas. Coloca o fone no ombro e faz uma chamada.

Como que num passe de mágica, contratos são assinados e, para grande felicidade do homem, foram fechados grandes negócios.

Ele trabalhará a vida inteira. Formulando planos. Prevendo o futuro.

As rendas anuais serão as sentinelas. Os ganhos de capital serão as pontes. Um império será construído.

Dois construtores de dois castelos. Ambos têm muita coisa em comum: fazem grandezas com pequeninos grãos...

Constroem algo do nada. São diligentes e determinados. E, para ambos a maré subirá, e tudo terminará.

Contudo, é aqui que as semelhanças terminam. Porque o menino vê o fim, ao passo que o homem o ignora.

Observe o menino na hora do crepúsculo.

Quando as ondas se aproximam, o menino sábio pula e bate palmas.

Não há tristeza. Nem medo. Nem arrependimento. Ele sabia que isso aconteceria. Não se surpreende.

E, quando a enorme onda bate em seu castelo e sua obra-prima é arrastada para o mar, ele sorri...

Sorri, recolhe a pá, o balde, segura a mão do pai e vai para casa.

O adulto, contudo, não é tão sábio assim. Quando a onda dos anos desmorona seu castelo, ele se atemoriza...

Cerca seu monumento de areia, a fim de protegê-lo.

Tenta impedir que as ondas alcancem as paredes. Encharcado de água salgada e tremendo de frio, ele resmunga para a próxima onda.

“É o meu castelo” diz em tom de afronta.

O mar não precisa responder. Ambos sabem a quem a areia pertence...

Talvez você não saiba muito sobre castelos de areia. Mas as crianças sabem.

Observe-as e aprenda. Vá em frente e construa, mas construa com o coração de uma criança.

Quando chegar a hora do pôr-do-sol e a maré levar tudo embora, aplauda.

Aplauda o processo da vida, segure a mão do pai e vá para casa.

..............

A vida tem sua dinâmica própria, e obedece a leis transcendentes que nem sempre conseguimos compreender totalmente...

Mas o certo é que a roda da vida gira e nos oferece lições importantes para serem apreendidas e vividas.

Resta-nos conhecer e confiar. Observar e aprender.

Por isso, vá em frente e construa, mas construa com o coração de uma criança.

E quando chegar a hora do pôr-do-sol e a maré levar tudo embora, aplauda.

Aplauda o processo da vida, segure a mão do Pai e vá para casa.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Trabalho fora, e os filhos?


Sossego é uma palavra que não existe para a mulher que tem filhos e trabalha fora de casa. Os compromissos pessoais e profissionais são muitos e nenhum pode ser deixado em segundo plano. Mas a vida dessa mulher também não precisa ser traduzida em loucura total.Desde que a mulher ingressou no mercado de trabalho, ela se tornou também uma provedora, deixando de ser apenas uma gerenciadora da casa e dos filhos.

Essa transformação exige, para começar, que o homem, se o tiver por perto, também assuma o papel de gerenciador, assim como os filhos. Esse é o primeiro passo para a mãe que é trabalhadora e acha que deve conseguir dar conta de tudo. A mulher que se queixa de estar sobrecarregada normalmente é a que centraliza todas as obrigações. Ela sai para trabalhar, cozinha, cuida dos filhos, leva para a escola, confere o dever de casa, enquanto as outras pessoas da casa ficam na folga, mesmo os filhos que não ão treinados para ter autononia , ou os pais , que se eximem das tarefas educacionais e domésticas. Esse modelo de organização familiar é insustentável.

A seguir, outras dicas vão ajudar você, mãe-profissional, a se organizar de tal maneira que consiga dar conta, sem estresse, de todos os seus compromissos.

1. Descentralize as responsabilidades O lema é "se a casa é de todos, todos devem participar". Isso mesmo! Já foi o tempo em que a mulher cuidava de tudo sozinha. Agora, com a mulher com força total no mercado de trabalho, o homem e os filhos devem fazer a sua parte. E nada de vir com aquele papo de que o marido dá uma ajudinha. O homem precisa ser corresponsável. As crianças fazem parte de uma família e de uma sociedade. Por isso, o cuidado com elas não é e não deve ser uma obrigação só da mãe. É preciso aprender a cobrar isso das outras partes, como o pai, os outros familiares, a escola, o governo.

2. Faça uma revisão sobre o cotidiano da família Agenda lotada faz parte do ritmo da vida moderna, ao qual acabamos tendo de nos adaptar. Uma boa solução para isso é cada família revisar o seu cotidiano, de forma que todas as pessoas da casa dêem conta de seus afazeres e mantenham uma boa convivência. Como podemos aproveitar o tempo que passamos juntos? Como podemos conviver da melhor forma possível com o tempo de que dispomos? E essas respostas não podem ser determinadas apenas pela mulher. É importante que todas as pessoas da família possam ter boas ideias para atingir tais objetivo. Converse com marido e filhos e façam combinações interessantes para todos, sempre visando tirar o máximo proveito dos momentos em que estão juntos. Família reunida toda noite para o jantar? Televisão somente na sala? Computador na área comum da casa? As decisões devem combinar com o estilo de cada família, mas é interessante pensar sobre elas.

3. Use mais a Internet Se a Internet facilita tantas tarefas, por que não pode facilitar a vida da mãe trabalhadora? Pois pode, e deve! Pais e filhos podem se comunicar por e-mail e por programas de mensagens instantâneas ao longo do dia, a fim de manterem um diálogo constante e elevarem a qualidade da relação. A mulher que dispõe de Internet no ambiente de trabalho pode aproveitar a ferramenta para monitorar o filho, instruí-lo, tirar dúvidas da lição de casa. É uma forma de estar presente.

4. Tenha um bom acordo com a empresa Não adianta negar. A mulher que tem filho, mesmo dividindo responsabilidades com o marido, vez ou outra terá de se ausentar do trabalho por algumas horinhas para ir às reuniões de pais, a alguma apresentação do filho, ou ainda no caso de alguma doença ou outro problema. Faz parte da vida de qualquer pessoa e muitas empresas estão conscientes disso. O importante é você se certificar de que este é o perfil de sua empresa. Há flexibilidade de horários? É possível compensar o horário ao longo da semana caso você precise chegar um dia mais tarde? Felizmente, muitas empresas estão mais preocupadas com a boa qualidade de vida familiar de seus colaboradores.

5. Faça do prazer pelo estudo uma realidade da casa. Isso vai ajudá-la a ter de cobrar menos dos seus filhos para que ele estude, faça as tarefas, ou seja, você vai poder ficar menos na cola dele e vai usar esse tempo para outras coisas. Se a criança crescer em um ambiente onde o prazer pela leitura, pelo perguntar e pesquisar é constante, provavelmente não vai precisar de um adulto no pé para fazer as tarefas da escola. Procure mostrar como descobrir coisas novas sobre o mundo que nos cerca é acima de tudo prazeroso e enriquecedor. Isso se faz no dia a dia, nas situações mais corriqueiras, e também por meio de exemplos.

6. Cuide-se! Muitas vezes a gente se esforça tanto para ser uma boa mãe, que acaba esquecendo que bom mesmo é ter uma mãe feliz e saudável. Para conseguir desempenhar todas as suas funções, de mãe, profissional, mulher, você precisar ter saúde e estar em paz consigo mesma. Por isso, cuide-se! Alimente-se bem, faça exercícios, cuide de sua aparência, faça terapia. O seu estado de espírito e a maneira como se sente poderá se refletir nas suas muitas outras atividades.

7. Dê autonomia aos filhos Uma coisa não vai mudar nunca: crianças precisam de proteção, carinho, atenção e muitos cuidados. Mas isso não quer dizer que elas sejam totalmente dependentes dos pais (tampouco da mãe). As crianças são mais capazes do que a gente imagina. Basta abrir uma conversa clara com elas para se perceber o potencial que têm para ser aproveitado. As crianças estão mais atentas e mais inseridas no mundo do que em outras gerações, quando não tinham contato com conversas de adultos, com noticiários e com tudo que a Internet e a televisão oferecem. Assim, procure escutar mais o que seu filho tem a dizer, dê a ele liberdade para resolver suas coisas, valorize as suas ideias, e veja como isso vai refletir positivamente também no seu dia a dia.

8. Mantenha a calma Não se culpe tanto, não se estresse tanto, não enlouqueça. Cobrar-se demais não leva a lugar nenhum, só a um nível de estresse que é prejudicial para a sua saúde e para as suas relações, sejam elas familiares ou profissionais. Procure resolver uma coisa por vez, e não ache que você tem de ser melhor em tudo.

9. Aproveite os finais de semana Nada de levar trabalho para casa sempre. Procure não desperdiçar as poucas horas de folga que você passa ao lado de seu filho. Nesses momentos, conversem, troquem afeto, leiam, passeiem, interajam, assistam a um bom filme, enfim, garanta a atenção que ele merece receber e que você gostaria de poder dar durante outros dias da semana, mas que nem sempre é possível.

10. Tenha sempre pessoas de sua confiança por perto- Não se trata de delegar para terceiros a Educação do seu filho, mas sim de saber que pessoas responsáveis e preparadas estão cuidando dele enquanto você e seu marido trabalham. Tenha certeza de que o colégio em que ele estuda tem bons profissionais e pessoal suficiente para cuidar de todas as crianças. Antes de matriculá-lo, visite a escola quantas vezes for necessário, até se sentir segura. Relacionar-se bem com vizinhos também pode ajudá-la num momento de apuro, como ficar presa até mais tarde no trabalho e ter de pedir para alguém buscar o seu filho na escola. Procure conhecer também os pais dos coleguinhas de seu filho. Certamente, vocês vivem situações parecidas e podem montar esquemas em que um ajuda o outro.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

INVEJA.......


A Cobra e O Vaga-Lume

Conta-se que uma cobra começou a perseguir um vaga-lume.

Fugiu um dia e ela não desistia, dois dias e nada.

No terceiro dia, já sem forças, o vaga-lume parou e disse à cobra:

Posso lhe fazer três perguntas?

- Pertenço à tua cadeia alimentar?
- Não.
- Eu te fiz algum mal?
- Não.
- Então, por que você quer acabar comigo?

E a cobra responde:

- Porque não SUPORTO ver você brilhar...

sábado, 10 de abril de 2010

Pensa, Faça e Sinta , em uma só unidade.


Claudia Aguiar

Pensar, Sentir e Fazer. Três aspectos que o psiquiatra Pichon Riviere, da Psicologia Social, traz como estrutura de comportamento. No mundo contemporâneo ,em uma visão fragmentada , somos estimulados a focar no PENSAR. É um mundo das informações, do cientificismo.Existe uma supervalorização no ser pensante. As escolas usam na sua metodologia o pensar como pressuposto de avaliação cognitiva. O discurso é : "é um intelectual, o que sabe tudo, o que sabe raciocinar, um acadêmico, bem, são várias qualidades atribuídas para os que 'pensam". Posteriormente, há uma valorização do FAZER. Existem os hiper ativos, fazendo, fazendo, sem conectar com a qualidade de vida, com os excessos. São pessoas que estão sempre dispostas a realizar algo, a colaborar, a se dispor. Normalmente ficam fatigadas, e entram em depressão por ficarem esvaziadas por automaticamente estarem fazendo algo, mesmo por si ou pelo outro. Perdem o contato com o sentido do Fazer. E o sentir? como vive-se o sentir? Há dificuldade desta conexão. Nesta vivência fragmentada, O pensante , no seu pátrio poder do saber, desqualifica o sentimento, que pode ser considerado um aspecto "frágil". O indivíduo que sistematicamnete FAZ, não dá uma pausa para perceber quais os sentimentos que tudo isto ocasiona na sua vida. E o sentir, que é o aspecto, onde se pode vivenciar o amor e a dor, fica perdido. O sujeito não percebe o que é importante para si. Viver o sentimento se relaciona com o amor que tem pela vida. Nutrir-se de Beleza, contemplação. É a reverência pelo Divino . Sentir é AMAR. É no amor que também podemos entar em contato com a dor, pois temos parâmetro de entendimento. Não despreza nada, e sim inclui na experiência vivida. É sentir o corpo falar com prazer, pois no corpo está impresso todas as nossas sensações. O toque, o êxtase, o olhar, são formas inatas do sentir. Precisamos nos incluir no sentir. Precisamos nos deixar levar pelas sensações e perder o medo delas. O medo está fragmentando o individuo e causando depressões, stress, insônias, gastrites , doenças psicosomáticas pela desconexão do SENTIR.
Nós, sujeitos deste planeta inteiro,total, holístico, devemos também nos sentir inteiros, nos complementando e exercitando em toda experiência na vida o Pensar, O Fazer e o Sentir em uma só unidade. .

terça-feira, 6 de abril de 2010

Viver em Estado de Graça



Vivo a fazer reflexões de como sinto, penso e atuo. Peço, pois “pedi e receberás”, que me mostre como é viver em Estado de Graça. Pois na maior parte das vezes, vivemos situações de confronto ou nos deparamos com elas em outras pessoas. Então ,a dificuldade de se manter sereno vem de um ego que ainda não tem preparo para negociar os momentos de protagonização? É necessário a consciência da redenção e dar lugar ao outro, mesmo sendo este outro alguém com controle soberbo? O problema está em abrir mão da soberania egóica? É o orgulho, que impede de olhar a todos como um Deus diante de nós , e poder reverenciar , abaixando a cabeça para sentir o Deus que o outro nos apresenta? É sair das verdades absolutas? É ter humildade e compartilhar os medos que todos temos? É baixar as guardas das defesas e perceber que o medo do outro, é meu? É parar de competir a certeza de tudo? É ter grandiosidade para dar espaço , áquele que a gente pensa que insiste em sabotar o nosso? É aceitar a vida como ela se apresenta? É aceitar, acolher, as pessoas como elas se apresentam? É deixar de se enfurecer pelo que o outro é, mas facilitar o encontro? Será que Estado de Graça é aprender a FACILITAR a minha relação com o outro? Será que eu sei ? pois se ainda não sei , torno a pedir: “Deus, me promove a possibilidade de Facilitar a minha relação com todos que o Senhor coloca no meu caminho e viver em Estado de Graça, AMÉM”.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Mundo: Páscoa: as muitas travessias


Resolvi postar as idéias de dois grandes pensadores: Frei Beto e Leonardo Boff. O primeiro nos traz uma páscoa política,reinvidicatória, analítica, o segundo nos pede para transcender, pois é na transcendência que descobrimos o que é essencial. Eu peço que a Vida possa se fazer presente em nós nos processos de transformação e ressurgimento do Cristo. Este Cristo que está AQUI, e que podemos vivenciá-lo em toda parte.Claudia
FELIZ PÁSCOA, boa reflexão.


Leonardo Boff *

Adital -
A Páscoa é festa central para judeus e cristãos. Ela celebra - celebrar é atualizar - para os judeus a passagem da escravidão no Egito para a terra da promissão, a passagem pelo Mar Vermelho e a passagem de massa anônima para um povo organizado. A figura de referência é Moisés, libertador e legislador, que nasceu cerca de 1250 anos antes de nossa era. Conduziu a massa para a liberdade e a fez povo de Deus.
Para os cristãos a páscoa é também passagem. Tem como figura central Jesus de Nazaré. Ela celebra a passagem de sua morte para a vida, de sua paixão para a ressurreição, do velho Adão para novo Adão, deste cansado mundo para o novo mundo em Deus.

Como em todas as passagens há ritos, os famosos ritos de passagem tão minuciosamente estudados pelos antropólogos. Em toda passagem há um antes e um depois. Há uma ruptura. Os que fazem a passagem se transformam. O rito de passagem do nascimento, por exemplo, celebra a ruptura da pertença ao mundo natural para a pertença ao mundo cultural, representado pela imposição do nome. O batismo celebra a passagem do mundo cultural para o mundo sobrenatural, quer dizer, de filho e filha dos pais para filho e filha de Deus. O casamento é outro importante rito de passagem: de solteiro ou solteira com as disponibilidades que cabem a esta fase da vida para casado com as responsabilidades que este estado comporta. A morte é outro grande rito de passagem: passa-se do tempo para a eternidade, da estreiteza espacial-temporal para a total abertura do infinito, deste mundo para Deus.


Se bem repararmos, toda a vida humana possui estrutura pascal. Toda ela é feita de crises que significam passagens e processos de acrisolamento a e amadurecimento. Tomando o tempo como referência, verifica-se uma passagem da meninice à juventude, da juventude à idade adulta, da idade adulta à velhice (hoje prefere-se terceira idade) e da velhice para a morte e da morte para a ressurreição e da ressurreição para o inefável mergulho no reino da Trindade, segundo a crença dos cristãos.

São verdadeiras travessias com riscos e perigos que este fenômeno existencial implica. Há travessias que são para o abismo, há outras que são para a culminância. Mas a páscoa traz uma novidade, tão bem intuída pelo filósofo Hegel, numa sexta-feira santa no Konvikt de Tübingen (seminário protestante) onde estudava. A páscoa nos revela a dialética objetiva do real: a tese, a antítese e a síntese. Viver é a tese. A morte é a antítese. A ressurreição é a síntese. A síntese é um processo de recolhimento e resgate de todas as negatividades dentro de uma outra positividade superior. Assim que o negativo nunca é absolutamente negativo, nem o positivo é somente positivo. Ambos se contem um ao outro, encerram contradições e formam o jogo dinâmico da vida e da história. Mas tudo termina numa síntese superior.

Talvez esta seja a grande contribuição que a páscoa judaico-cristã oferece aos que se afligem e se interrogam sobre o sentido da vida e da história. O cativeiro não tem a última palavra, mas a libertação, a morte não detém o sentido das coisas, mas a vida e a ressurreição. Assim a história estará sempre aberta. Com razão nos dizia o poeta e profeta Dom Pedro Casaldáliga: depois da síntese final da páscoa de Cristo não nos é mais permitido viver tristes. Agora a verdadeira alternativa é: ou a vida ou a ressurreição.

Páscoa: a vida como dom maior




FREI BETTO *


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Celebrar a Páscoa é reafirmar a nossa fé na ressurreição de Cristo e na própria ressurreição de todos os nossos projetos de justiça. A morte é a nossa única certeza de futuro. A postura que temos diante da morte traduz o sentido que damos à vida. Temem a morte aqueles que não conseguiram ainda imprimir à vida uma direção, uma razão de ser. Ou se apegaram demasiadamente a bens e prazeres que lhes adornam o ego.
Outrora, a morte incorporava-se ao nosso cotidiano: morria-se em casa, cercado de parentes e amigos. Em Minas, havia velório com pão de queijo e cachaça, carpideiras e proclama em postes, missa de corpo presente e despedidas no cemitério, celebração de 7º dia e luto. Em suma, celebrava-se o rito de passagem.
Hoje, o enterro tornou-se mais um produto de consumo. Morre-se clandestinamente, num leito anônimo de hospital ou em gavetas de um necrotério, como se o falecido fosse uma presença tão incômoda quanto gato em loja de cristais. Não há choro nem vela, nem fita amarela.
Em tudo, há começo, meio e fim. No entanto, nossa racionalidade, tão equipada de conceitos, esvai-se nos limites da vida. Só a fé tem algo a dizer a respeito desta fatalidade. Se Cristo não houvesse ressuscitado, afirma São Paulo, nossa fé seria vã. Mas a vitória da vida sobre a morte arranca da injustiça o troféu da última palavra. No ocaso da existência — lá onde toda palavra humana é inútil alquimia — Deus irrompe como um teimoso posseiro. E, como no amor, não há nada a dizer, só desfrutar.
Na América Latina, morre-se antes do tempo. De cada 1.000 crianças brasileiras nascidas vivas, 27 morrem antes de completar um ano. Aqui, a morte não é uma possibilidade remota. Ela nutre o sistema econômico. Sem privar milhares de brasileiros de possibilidades reais de vida, não seria possível entregar aos credores da dívida pública R$ 600 milhões por dia!
Tira-se tudo isso dos minguados salários dos trabalhadores, através de cirurgias assassinas eufemisticamente denominadas “ajustes fiscais”. Mata-se à prestação, lenta e cruelmente, como se o direito à vida fosse um luxo.
A morte é, pois, uma questão política, assim como a esperança, centrada no mistério pascal, move a nossa luta pela vida, dom maior de Deus. Ora, a ressurreição de Cristo não significa apenas que do outro lado desta vida encontraremos a inefável comunhão de Amor. Diz respeito também à vida nesta Terra. “Vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (João, 10, 10).
Não haverá vida em abundância senão pela via das mediações políticas, como a distribuição de renda, a reforma agrária, o investimento em educação e saúde. Minha generosidade pode oferecer, hoje, um prato de comida ao faminto. Amanhã ele terá fome. Só a política é capaz de acabar com o que ela também cria: a fome e a miséria. Nesse sentido, eleger candidatos empenhados “para que todos tenham vida” é um gesto pascal, ressurrecional.
Vivemos num mundo em busca de equilíbrio. Dos dois lados, Ocidente e Oriente, convivemos com fundamentalismos religiosos. Mata-se em nome de Deus. E enquanto o Ocidente sente-se no direito de ridicularizar o que o Oriente considera sagrado, o Oriente julga-se no dever de calar os profanadores pela violência. A Páscoa deve servir de momento de reflexão: que outro mundo almejamos? É possível alcançar a paz se 2/3 da humanidade vivem abaixo da linha da pobreza? O caminho da paz é a imposição das armas ou a conquista da justiça?
A Páscoa nos convida à interiorização, a meditar de olhos bem abertos. Não é lá no túmulo de Jerusalém que, agora, Jesus ressuscita. É em nosso coração, em nossa solidariedade, em nossa capacidade de enxergá-lo no próximo, em especial nos mais pobres, com quem ele se identificou (Mateus 25, 31-46). A pedra a ser retirada, para que a vida floresça, é a que pesa em nossa subjetividade, amarra-nos ao egoísmo e nos imobiliza frente aos desafios de solidariedade.